quarta-feira, 1 de outubro de 2008

I.

Não conheço a I. a não ser pela fotografia que o pai me mostrou. É, sem dúvida uma bebé muito bonita e com um ar feliz.
Não conheço a I. mas gosto dela, ela tem metade dos genes de uma pessoa de quem gosto muito e que teve uma importância desmesurada na minha vida.
A I. é pequenina, não percebe ( achamos nós) mas a vida dela está uma grande confusão, e que grande confusão.
Os pais da I. não há maneira de se entenderem. Namoro longo a atribulado, pensaram eles (erradamente) que, com a chegada da I. as coisas iam mudar, que todas as suas incompatibilidades seriam ultrapassadas e que conseguiriam ser uma família. Os pais da I. enganaram-se e agora, a I. ainda é muito pequenina e já tem duas casas , a casa da mãe e a casa do pai.
A nossa realidade até agora tem sido de que uma família é um pai , uma mãe , irmãos e às vezes um cão ( um caniche nas famílias suburbanas e o golden retriever nas famílias de classe média alta).
Crescemos com a certeza de que connosco seria assim, de que, quando chegasse a nossa vez de ter uma família seria igual- um pai , uma mãe, muitos filhos e um golden retriever ( ninguém acha que não vai ser, pelo menos, da classe média alta)
Mas tal como os pais da I., estávamos enganados , as famílias de hoje , afinal não são assim.
As mães de hoje em dia casam 4 vezes e tem filhos de 2 pais diferentes; Os pais vivem com os filhos da sua terceira mulher, não dá para ter um golden retriever porque as casas são muito pequenas e os cães hoje em dia são muito mais exigentes e só comem ração caríssima ( o insuportável com ordenados de 1000 euros).
E o Natal destes miúdos ? O Natal dos miúdos, hoje, é uma confusão , o jantar de dia 24 é com os avós maternos, a meia-noite com o pai e os pais da madrasta , logo a seguir ao Pai Natal se pirar, saem a correr porque os enteados do pai ainda têm de ir visitar o pai deles ... e depois , aquela história de brincar com os brinquedos novos na manhã de 25... acabou (!), os desgraçados levantam-se cedo, nem olham para os brinquedos e começam novamente na correria , de casa em casa, de família em família. ( a única vantagem é que são capazes de ter mais presentes porque passam o Natal com cerca de 300 pessoas ,logo, as probabilidades aumentam e depois , como toda a gente tem pena que o Natal deles tenha perdido a magia , são capazes de conseguir sacar uma média de 2 jogos PS3 por pessoa , o que, fazendo assim as contas por alto, deve dar cerca de uns 600 jogos... e depois lá vão os desgraçados, no dia 27- porque dia 26 o comércio está fechado- para a confusão da fnac trocar os 592 jogos repetidos por livros ...). coitados destes miúdos.
Oxalá que a I. tenha uma família. Quero muito que os pais da I. , seja da forma que for, lhe dêem uma família, que ela sinta a estabilidade e a segurança que tantas vezes ao longo da vida precisamos e que só uma família pode dar.
Boa sorte I. e que sejas muito feliz!

2 comentários:

ah pois é! disse...

eu também espero que a I. seja muito feliz... Estamos todos a torcer pela I!

ah pois é! disse...

De resto, não nos podemos esquecer que hoje o que é estranho, o que é diferente, são meninos verem os seus pais casados por mais de 10 anos! A funcionalidade da família mudou e, em virtude disso, repartem-se afectos, brinquedos, roupas, que vão todos sendo deixados em várias moradas. Mas sabes que mais? As experiências multiplicam-se, assim como o "Leque do Bem e do Mal", que se enche de maravilhosas tonalidades! Por tudo isso, sei que a I. vai ficar bem, e ser feliz.