terça-feira, 28 de outubro de 2008

Besuntas – parte II

Como já aqui foi dito, o “Besuntas”, como é carinhosamente apelidado, é o restaurante mais sujo de Portugal. Mas também o mais divertido.
Num almoço em que o dono estava especialmente bêbado, mas mesmo assim insistia em estar à frente da grelha, e onde a berraria reinante conseguia estar acima dos habituais decibéis, já anormalmente altos (sempre provinda do mesmo dono bêbado), decidimos almoçar na esplanada. Nada melhor do que estar na esplanada, esperar 30 minutos pela entrega do menú, e mais 30 minutos para pedir, porque sempre nos dá tempo para descontrair e rirmo-nos a bandeiras despregadas! Eu quero é festa!
Pois neste dia em especial, os clientes rebelaram-se. Coisa anormal e nunca vista! Diz que já tinham feito o seu pedido há mais de 45 minutos, estavam fartos de ver o tal dono bêbado a arremessar frascos de mostarda à mulher, não quiseram esperar mais e saíram do restaurante, insensíveis aos pedidos já formulados e que, segundo ele, estavam já já a sair (estavam era já já a sair há mais de meia hora…). Pois que o dono que nesse dia estava especialmente bêbado, rebelou-se ele próprio contra os clientes, e era vê-lo, de travessa de alumínio na mão, cheia de peixe-espada acabadinho de grelhar, a correr todo torto atrás dos clientes, sempre aos berros: “Ó Doutori!!!!!!! Volte cá que o seu peixe já está pronto! Esta merda não é abancar, atar e por ao fumeiro!!!” Nós, que assistíamos a isto da 1ª fila, riamos que nem uns perdidos (ou melhor, eu ria-me que nem uma perdida; o resto estava um bocado para o atónito…), principalmente por conhecermos os ditos Doutoris que quase desataram a correr do desgraçado do dono… Eis senão quando chega um amigo meu, atrasado como sempre, e senta-se à mesa pronto para ser servido. O ar de animação nas nossas caras era ainda demasiado evidente. E intensificou-se quando o dono bêbado volta ao ataque, direitinho à nossa mesa e àquele desgraçado que tinha acabado de chegar e, ainda com a mesma travessa na mão, dá-se este diálogo altamente improvável:
Besuntas: O que é que vai ser Doutori?!
Doutori: Não sei… O que é que tem?
Besuntas: Olhe, tenho aqui peixe-espada acabadinho de grelhar só para si!
Doutori: Mas eu não gosto de peixe-espada…
Besuntas: Não gosta?! Não gosta?! Agora Come!!”
Vai daí, pespega-lhe com a travessa na mesa e com ar de triunfo dá meia volta.
O meu amigo comeu o peixe-espada…
Moral da história: no besuntas se não gostas, ou comes ou pões na borda do prato!